Ferrovia e Literacia
“Naturalmente, nesse dia, falou-se da jornada de Lisboa, do bom serviço da mala-posta, do caminho de ferro que se ia abrir…O Vilaça já viera no comboio até ao Carregado.
– De causar horror, hein? – perguntou o abade, suspendendo a colher que ia levar à boca.
O excelente homem nunca saíra de Resende; e todo o largo mundo que ficava para além da penumbra da sua sacristia e das árvores do seu passal lhe dava o terror de uma Babel. Sobretudo essa estrada de ferro, de que tanto se falava…
– Faz arrepiar um bocado – afirmou com experiência Vilaça. – Digam o que disserem, faz arrepiar! […]
O abade gostava do progresso…. Achava até necessário o progresso. Mas parecia-lhe que se queria fazer tudo à lufa-lufa… O país não estava para essas invenções; o que precisava eram boas estradinhas…
– E economia! – disse o Vilaça, puxando para si os pimentões.”
© Eça de Queirós, Os Maias, 1888
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Ao longo de quase dois séculos o comboio foi muito mais do que um meio de transporte viajando entre livros, músicas, quadros, filmes e utopias.
Na literatura podemos encontrar o comboio em páginas de obras importantes como as de Georges Simenon (O Homem que via passar os comboios), ou de Aghata Christie (Um crime no expresso do oriente) ou ainda na obra literária de “Os Mais” de Eça de Queiroz.